quinta-feira, 31 de maio de 2007

Linhas



Lá vai o fosso por onde correm passos… Pulgões que carregam blocos de carvão e que os atiram para a caldeira, olhando por debaixo da saia das raparigas, são minúsculos. Desajeitados e felpudos, lá vão eles em direcção à fornalha. A cumprimentá-los está o homem dos seis braços. Tem bigode e usa óculos de sol. Óculos esses que se confundem com os seus olhos, pois estão de tal forma inseridos na pele que parecem… lapas talvez, ou conchas disformes do mar, por onde os pulgões passaram antes de acabar nas fornalhas. E lá está o velho a dar ao pedal. Ah, e é careca também, com camisa roxa, ou camisola, não sei. Se calhar era camisola de lã. A sua imagem está um pouco apagada. A caldeira vai aquecendo os banhos termais para os deuses que lá passam férias, e o velho a dar ao pedal é quem bombeia a água.. Nunca se haviam visto deuses tão sujos, tão cheios de esterco, que fossem precisos 100 pulgões para por a água quente. E conforme vão sendo lavados aparecem sacos de lixo e pauzinhos que se agarram aos seus corpos imundos. E a carregar a toalha vem a lesma. A toalha já vem molhada portanto. Afastando-nos 200 tudo desaparece e ficam apenas séculos. E assim nasceu a História.

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